27 janeiro 2013

QUANDO TU NÃO ESTÁS



 

Quando aqui não estás 
o que nos rodeou põe-se a morrer
a janela que abre para o mar 
continua fechada só nos sonhos

me ergo 
abro-a 
deixo a frescura e a força da manhã 
escorrerem pelos dedos prisioneiros 
da tristeza

acordo 
para a cegante claridade das ondas 
um rosto desenvolve-se nítido 
além 
rasando o sal da imensa ausência 
uma voz

quero morrer 
com uma overdose de beleza
e num sussurro o corpo apaziguado 
perscruta esse coração
esse 
solitário caçador 

al Berto







18 janeiro 2013

NÃO COLHER AS MÃOS



imagem daqui:
http://daliteratura.blogspot.pt/2012/01/rui-costa-1972-2012.html

não colher as mãos, alimentar os objectos. 
tocá-los devagar, deixando o fio correr desde 
o ar até à ponta dessa sombra onde repousa 
o mundo. tenho a certeza de que algo se 
mexe no silêncio. olho uma vez. olho uma vez. 
sei que falas com as coisas. que tens um pacto 
com as rãs, outros pequenos animais, certos verdes 
hereditários gestos. que nem que quisesses me 
poderias contar. e sei de tudo limpo e é para ti que 
inclino as mãos quando percorro as cidades e as 
esqueço. esta pequena saudade é uma floresta 
de silêncios. sou capaz de adormecer sobre o fogo. 

RUI COSTA
in: “a nuvem prateada das pessoas graves”