13 agosto 2013

in: DE AMOR ARDEM OS BOSQUES



XII
No lago mais profundo repousa a jóia do bosque.
é esta a última palavra

[do coração dos bosques pag. 97]
Maria Azenha

II
Olhou o pão na mesa e deixou cair
as mãos como sementes
para que tudo crescesse a partir
do chão

olhou o mar

e viu as lágrimas 
das trevas
iluminadas pelo firmamento

depois sentiu que se fechasse os olhos
por um pequeno instante
tudo voltaria ao caos

as mães têm as mãos grandes

[das clareiras dos bosques pag. 73]


VIII
O poeta sabe como Deus transbordou do escuro
e nasceu de uma nuvem de solidão e exílio

[como respirou e dormiu
e estendeu os braços ao longo dos rios]

com árvores e ombros
e mãos para lavrar o azul
partiu-se
em mil bocados.

que neles ninguém se fira

[das sombras dos bosques pag. 63]
Maria Azenha




"conciliando o sonho"
Vladimir Kush



03 agosto 2013

in: ÂMAGO

 
  
 
amor é o olhar total, que nunca pode ser cantado nos poemas ou na música,
porque é tão só próprio e bastante, em si mesmo absoluto e táctil,
que me cega, como a chuva cai na minha cara, de faces nuas,
oferecidas sempre apenas à água.



fui criança, indo por um carreiro,
a caminho do mar, mão na outra mão,
entre árvores, pedras, insectos e aves.
toda a natureza me coube nas pupilas,
mestra de sentimentos, e eu discípula.
e, se fechava os olhos, ela punia-me
com o silêncio cruel das ondas,
a mudez imerecida dos insectos,
e a distância das aves, que doía.
se os abria, tudo me rodeava,
apaziguado e meu,
mas a mão que me trazia a mão
puxava-me para a luz de cada dia.

 
Fiama Hasse Pais Brandão
[cenas vivas]